quinta-feira, 22 de novembro de 2012

cinzas

peguei as cinzas dele, ela disse, e as lancei
ao mar e as espalhei e
elas nem sequer pareciam cinzas
e
o que dava peso à urna eram os
seixos verdes e azuis...

ele não lhe deixou nem um centavo de seus
milhões?

nada, ela disse.

mesmo depois de todos aqueles cafés da manhã
e almoços e jantares ao lado dele? depois
de ter escutado toda a merda que ele falava?

ele era um homem brilhante.

você sabe do que estou falando.

seja como for, eu fiquei com as cinzas. e você comeu
minhas irmãs.

nunca comi suas irmãs.

comeu sim.

comi uma delas.

qual?

a lésbica, respondi, ela me pagou o jantar e as bebidas,
não tive muita escolha.

estou indo, ela disse.

não se esqueça do frasco.

ela entrou para buscá-lo.

sobra tão pouco de você, ela disse, que quando você morre e
eles te queimam precisam acrescentar uma porção de seixos
verdes e azuis.

está bem, eu disse.

vejo você daqui a 6 meses! ela gritou e bateu a porta.

bem, pensei, creio que para me livrar dela terei que
comer a outra irmã. caminhei até o quarto e comecei a dar
uma olhada nos números de telefone. tudo o que eu lembrava
era que ela
vivia em San Mateo e tinha um ótimo
emprego.

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