terça-feira, 23 de outubro de 2012

a música suave


vence o amor porque nela não há
feridas: pela manhã
a mulher liga o rádio, Brahms ou Ives
ou Stravinsky ou Mozart, ferve os 
ovos contando em voz alta os segundos: 56,
57, 58... descasca os ovos, os traz
para mim na cama, depois do café da manhã é
a mesma cadeira e ouvir a música
clássica. A mulher está no seu primeiro copo de
scotch e no seu terceiro cigarro. digo-lhe
que preciso ir ao hipódromo. ela
está aqui há 2 noites e 2 dias. "quando
voltarei a vê-la?" pergunto. ela
sugere que fique a meu critério.
aceno com a cabeça e Mozart toca.

gostosa e sexy

"sabe", ela disse, "você estava no bar
e por isso não pôde ver
mas eu dancei com aquele cara.
nós dançamos juntos
sem parar.
mas não fui para casa com ele
porque ele sabia que eu estava
com você."

"valeu mesmo," eu
disse.

ela estava sempre pensando em sexo.
levava isso sempre consigo
como algo embrulhado num saco de papel.
quanta energia.
ela começava por qualquer homem disponível
nos cafés da manhã
entre ovos e bacon
ou mais tarde
entre um sanduíche no almoço ou
um bife no jantar.

"moldei meu modo de ser inspirada em Marilyn Monroe," ela
me
disse.

"ela está sempre fugindo
para alguma discoteca local para dançar
com algum otário, "um amigo certa vez
me contou, "estou surpreso que você
continue com ela depois de tudo  que já aconteceu."

ela desaparecia nas corridas
para depois surgir e dizer
"três caras se ofereceram para me pagar
um drinque".

ou então eu a perdia no estacionamento
e a procurava e ela
estava caminhando com um estranho.
"bem, ele veio desta direção
eu vim daquela e nós
meio que caminhamos juntos, não
queria ferir os sentimentos dele."

ela disse que eu era um homem
muito ciumento.

um dia ela apenas
submergiu
em seus órgãos sexuais
e desapareceu

era como um despertador
caindo dentro do Grand Canyon.
batei e chocalhou e
tocou e tocou
mas eu não pude mais
vê-la nem ouvi-la.

me sinto bem melhor
agora.
dediquei-me ao sapateado
e agora visto um chapéu de feltro
preto levemente inclinado
sobre o olho
direito.

ja vi mendigos demais com os olhos vidrados bebendo vinho barato debaixo da ponte


você se senta comigo
no sofá
nesta noite
nova mulher.

você já viu os
documentários
sobre animais carnívoros?

eles mostram a morte.

e agora me pergunto
que animal entre
nós dois
devorará
primeiro o outro
física e
por fim
espiritualmente?

nós consumimos animais
e então um de nós
consome o outro,
meu amor.

enquanto isso
prefiro que você vá
primeiro e do primeiro jeito

se os gráficos de performance passadas
significarem alguma coisa
eu certamente irei
primeiro e do último
jeito.

a deusa de um metro e oitenta



sou grande
suponho que é por isso que minhas mulheres sempre parecem
pequenas
mas essa deusa de um metro e oitenta
que negocia imóveis
e arte
e que voa do Texas
para me ver
e eu voo ao Texas
para vê-la --
bem, há nela o suficiente para
ser agarrado
e eu me agarro todo
nela.
puxo-lhe a cabeça para trás pelos cabelos,
sou macho de verdade,
chupo-lhe o lábio superior
sua xoxota
sua alma
monto sobre ela e lhe digo,
"vou lançar suco quente e branco
dentro de você. não voei desde
Galveston para jogar
xadrez";

depois nos deitamos enlaçados como vinhas humanas
ela é selvagem
ela me resguardou
meu braço esquerdo debaixo de seu travesseiro
meu braço direito sobre o lado de seu corpo
aferro-me às suas mãos,
e meu peito
barriga
bolas
pau
enroscam-se nela
e através de nós
no escuro
passam raios
pra lá e pra cá
pra lá e pra cá
até que eu desfaleça
e nós durmamos

mas dócil
minha deusa de um metro e oitenta
faz-me rir
a risada do mutilado
que ainda precisa de
amor.
e seus olhos abençoados
fluem para o fundo de sua cabeça
como nascentes na montanha
ao longe
nascentes
frescas e boas.

de tudo o que não está
aqui.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

você

você é uma fera, ela disse
sua enorme barriga branca
e seus pés cabeludos.
você jamais corta as unhas
e tem mãos gordas
como as patas de um gato
seu nariz vermelho e brilhante
e os maiores bagos que
eu já vi.
você lança esperma como
uma baleia lança água pelo
buraco das costas.

fera, fera, fera,
ela me beijou,
o que você quer para o
café da manhã?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sandra

é a alta e magra
donzela do quarto
de brincos
coberta por um largo
vestido

está sempre alta
em sapatos de salto
espirito
boletas
trago

Sandra se inclina em sua cadeira
inclina-se em direção a
Glendale

aguardo que sua cabeça
bata na maçaneta
do guarda-roupa
enquanto ela tenta
acender
um novo cigarro num
outro já quase
consumido

aos 32 ela gosta de
jovens limpos
imaculados
com rostos semelhantes ao fundo
de pires recém-comprados

depois de se vangloriar
a não mais poder
acabou me trazendo seus prêmios
para que eu desse uma olhada
garotos nulos, loires e silenciosos
que
a)sentam
b)levantam
c)falam
ao seu comando

às vezes ela traz um
às vezes dois
às vezes três
para que eu os
veja

Sandra fica muito bem em
vestidos longos
Sandra pode partir provavelmente
o coração de um homem

espero que ela encontre
um.